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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sensitivity Analysis



As nossas escolhas moldam o nosso caminho e, ultimamente, a nossa vida. E se eu não tivesse feito isto? E se tivesse arriscado naquele dia? E se não tivesse mantido a boca calada? E se... E se...

É curiosidade natural, aquela que me toma ao acercar-me destas questões. Afinal, tudo aquilo por que passei me define e criou os traços que hoje carrego, sejam físicos ou psicológicos. Quão diferente seria eu com uma simples alteração numa das variáveis que me ergueram? Como é composto o leque de possíveis Joana's em múltiplos universos paralelos? E se eu fizesse precisamente todas as escolhas contrárias às que fiz até agora, quão afastada estaria da pessoa que sou hoje?
É comum defender que não nos devemos arrepender das escolhas que já fizemos pois, na altura, era o que queríamos. Eu aprendi que essa afirmação não é, de todo, aplicável em todas as situações, afinal somos humanos e, mesmo inconscientemente, podemos optar por A convencendo-nos de que é o melhor quando B é realmente o que queremos. A questão é: se não se arrependem de absolutamente nada na vossa vida, ou estão a levar uma vida de bradar aos céus e congratulo-vos por isso ou não estão a sair da vossa zona de conforto e é possível discutir a vossa definição de viver.

Eu gosto de pensar que não me arrependo de nada mas é claro que não gosto de me mentir a mim própria. Acho que arrepender-me não é bem o termo certo mas por vezes penso nas decisões que tomei e sinto um murro no estômago, um toquezinho amargo ou uma ponta de embaraço. Acho que a razão pela qual não o defino como arrependimento é porque aprendi com isso, aceitei o "erro" e tomou parte da minha personalidade. Querer mudar isso é como aqueles avisos nos filmes com viagens no tempo, qualquer pequeno deslize pode provocar mudanças irremediáveis, porque vamos construindo tudo camada a camada e mexer nas fundações de uma casa pode fazê-la ruir.

O que quero dizer é que o truque parece-me ser, não o evitar de más escolhas, mas sim a forma como nos erguemos e damos a volta após isso. Pelo menos, quero acreditar que sim.

quarta-feira, 25 de março de 2015

# How Am I


Sempre me foi de difícil compreensão como nos podemos sentir tão desligados da vida. Deambulamos por aí e nada nos parece de verdade, emoções desprovidas de entusiasmo, vivacidade, paixão... Emoções vazias que nos fecham e asfixiam.

É certo que os nossos pulmões nunca param de trabalhar e de nos oxigenar mas, por vezes, a quantidade de energia que nos é sugada é de tão enorme exagero que acabamos por soltar a súplica "Preciso de respirar".
Eu sinto isso e sinto como se fizesse parte de mim, como se tivesse de constantemente lutar por um pouco de sensibilidade. Porque é que não consigo sentir nada? Porque é que desprezo a existência de toda a física que me rodeia? Não me agrada questionar a minha sanidade mental mas, no entanto, dá-me um certo gosto sentir-me desafiada. Custa-me sofrer e encarar os acontecimentos desta minha forma peculiar, o que por vezes se verifica muito pouco ou nada saudável, mas apesar disso sei que isto me ajuda a crescer como pessoa e mais que isso, como ser humano racional que ambiciono permanecer,

Nunca sei quando é a altura ou qual a medida certa em ceder à emoção. Sou demasiado ponderada e ao mesmo tempo controlo impulsos e instintos que tenho curiosidade em seguir. Fico dividida. Eu sei observar, sei que isso pode dar muito mau resultado e protejo-me, diferencio-me. Mas estarei eu a ser inteligente ou a privar-me da vida? A fugir daquela que é por natureza uma complexidade de reviravoltas, quebras e sucessos? Chama-se a isso aprender com os erros dos outros ou permanecer inexperiente nas cabeçadas na parede?

Sinto-me a divagar, no papel e na realidade. E sei que tenho de regressar pois estou a desperdiçar tempo valioso.
Gostava de saber parar, pensamento atrás de pensamento, ter um pouco de paz. Afinal o que é a vida? O que é sentir? Como é que sentimos? É, isto que nos envolve, real?

domingo, 4 de janeiro de 2015

Um novo ano



Começo por vos desejar, desde já, um ano novo em grande e que 2015 vos deixe realizados e felizes!

Quanto a mim, hoje comemoro de certa forma a minha passagem de ano biológica :) Os 19 anos estão hoje completos e agora que venha o vigésimo e que não desiluda.
O ano passado foi um ano de grandes mudanças, experiências e aprendizagens. Se estou totalmente satisfeita? Não, mas um dia de cada vez fazemos o que podemos por uma vida melhor.
O que eu espero é que esteja a caminhar na direcção certa e vou fazer para que todos os planos que tenho em mente se realizem. Quero aproveitar todas as boas oportunidades que surgirem no meu caminho e quero tornar-me não só uma aluna melhor como uma amiga melhor e uma pessoa melhor, que é o mais importante.

Que 2015 vos sorria e que vivam intensamente, com saúde e alegria!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

# Secrets I have held in my heart


As horas passam e tudo o que está entalado assim permanece. 
É uma multidão que me cerca, todo um alvoroço de vozes a ecoar cheias de vida e é a ti que os meus olhos buscam. A tua presença move o meu estado de espírito. Oh, o meu estado de espírito... Posso até estar vendada que sinto o teu corpo a centímetros do meu. Distingo o teu odor e este prende-me os sentidos, uma explosão de sentimentos revolve-se dentro de mim. Como posso eu estar bem? Quando a tua voz me embala e sonho acordada com o teu olhar, que posso eu fazer? Que haverá a dizer?
Está frio, estou a congelar e debaixo do chuveiro, as gotas aquecidas e fervorosas caem, queimando um a um os poros da minha pele. Um ardor que me mantém aquecida. Tu és a minha água quente num dia gelado, o frenesim em que deixas o meu coração atrapalha o meu fôlego e afaga-me a alma. Inconsciente, ou não, consegues pois ser também a toalha que me recolhe quando o vapor esmorece e tudo o que resta sou eu, indefesa a tremer. Tudo em ti me encanta e, de seguida, és o pijama que me cobre, todo o teu ser e a tua personalidade é um encaixe demasiado certeiro nos meus recantos mais desafiantes. A pouco e pouco tenho-te em todo o lado... Sem te ter.
Sinto-te de malas prontas a viajar pelo mundo e, antecipadamente, tudo o que me alveja é a saudade do teu ar, do que me fazes sentir, a falta que me farás, a falta que já me fazes...
Ainda que vás, fica comigo

terça-feira, 12 de agosto de 2014

# The Look in Someone's Eyes


Era uma tarde soalheira e quase que podia ser embalada pelas ondulações da água enquanto consentia ao meu corpo que flutuasse e se deixasse levar pelo ritmo da vida. Por razões ainda desconhecidas, os nossos caminhos cruzaram-se, literalmente, e foi adicionada à minha visão do mundo uma nova camada completamente fora do modelo convencional. Uma única palavra proferida foi o suficiente para me acordar e despertar a atenção.
É curioso pensar: e se demorasse cinco segundos extra a mexer-me e chegar ao ponto de "colisão"? Já não passaria apenas de uma realidade não consumada, uma possibilidade perdida no meio de tantas outras que se perdem todos os dias da nossa vida. É interessante pensar que com cada escolha que fazemos, com cada caminho que tomamos, existem outros tantos que se dão por interditos e acabados. Isso é uma das muitas provas de que o nosso destino é talhado por nós dia após dia, somos nós que construímos a calçada da rua da nossa vida, somos nós que plantamos as árvores da nossa alameda, somos nós que tecemos a passadeira vermelha do nosso futuro, somos nós que, um dia de cada vez, colocamos tijolo sobre tijolo e construímos o nosso castelo. E o mapa de infinitas possibilidades e combinações é tão bem construído que mesmo que tomemos o caminho errado hoje, poderemos ter a oportunidade amanhã para retomarmos o certo, aquele que nos é fiel a nós mesmos. Ou não. Claro que algures por aí, existem alguns meros acasos no que toca ao nosso mapa cruzar-se com o mapa de outras pessoas. Eu decidi que ia deslocar-me por ali e nada ia mudar isso, no entanto foi o tempo que demorei a fazê-lo que determinou que colidisse com o seu trajecto, o seu dia, a sua vida, na verdade. E isso acontece com todos nós, a toda a hora. Sem explicação.
Dizem que os olhos são a janela da alma. Pois então, eu diria que o seu olhar me compelia a fazer-me transportar para o seu ser, observar o conjunto de peculiaridades e mistérios que o compunham e irrompiam do seu interior para o seu redor. Uma figura tão estranha e diferente... Mas ao mesmo tempo, cativante.
Sinto-me movida pela possibilidade de viajar, conhecer, descobrir, explorar. Senti-me movida pelo estilo de vida alternativo (desligado de estereótipos, nada a ver), tinha algo de refrescante e novo, aliciante, libertador. Todo o seu ar vivido me fazia gritar silenciosamente por novas experiências, novas realidades, novas metas. Tinha qualquer coisa de invulgar aquela presença e era daquelas que te impedem de desviar o olhar, os seus olhos quase que exigiam o estudo dos meus. Perco a sensibilidade e esqueço-me de onde estou, tudo à minha volta esmorece e ao mesmo tempo vislumbro uma infinidade de experiências que estou a deixar escapar, vejo nele tudo o que estou a perder com a minha vida sossegada e quieta, segura. Faz-me querer mais para mim, uma vivência fora do comum, algo que destaque a minha vida do padrão, algo que a torne não uma vida qualquer mas a minha vida, que me entusiasme tanto que me faça explodir de emoção e satisfação...
Aquele olhar inspirou-me, mudou-me a mim e à forma como estava a projectar o meu modo de viver, e isso é impagável.

sábado, 26 de julho de 2014

Me vs My Blog


Muitas vezes sinto-me mal por não postar com mais frequência, não só porque quero partilhar com vocês, sentir-me parte deste mundo e fazer com que se sintam bem-vindos ao meu espaço como também preciso de escrever e faz-me bem escrever. Outra coisa em que penso é que o meu blogue não tem uma "personalidade" bem definida, tanto escrevo textos abstractos como escrevo certas coisas sobre mim num registo mais descontraído e acaba por não encaixar em nenhuma categoria (caso fosse necessário, coisa que não é).
A verdade é que eu também não tenho uma personalidade que se encaixe numa categoria, tal como o meu blogue. Tenho múltiplos interesses pelo mundo e pela vida, gosto sempre de tentar olhar para as coisas pelos dois lados da moeda, gosto de desporto e de ler, gosto de apanhar sol e de "sentir" trovoada, gosto de partilhar mas também de ficar em silêncio e por aí fora. Por ser tão interessada por um pouco de tudo é que tive dificuldade nestes últimos meses em decidir ao que me candidatar na faculdade.

Ultimamente tenho reflectido sobre isso e cheguei à conclusão que embora tudo o que disse até agora seja verdade, acho que o meu blogue acaba por espelhar exactamente a minha pessoa.

Considero-me uma pessoa calma e reservada. Sou alguém que gosta de ouvir, perceber as coisas, gosto de ter um discurso com sentido e se não tenho nada para dizer, não vou inventar, fico calada. Há dias em que não me apetece falar, resguardo-me nos meus pensamentos e simplesmente guardo tudo para mim (o que por vezes é agoniante). Há outros em que sinto a necessidade de partilhar o que me vai na alma ou falar das coisas mais insignificantes que correm na minha vida mas que fazem parte dela e às quais quero dar valor. Se calhar ninguém quer saber mas escrever sobre isso é dar pelo menos um pouco de importância, é imortalizar essas situações ou sentimentos. Eu sou assim e isso acaba por definir o meu blogue também, não o estereotipa em lugar algum e só quem o perceber e gostar é que fica, tal como na minha vida. O que não quer dizer que não esteja cá porque eu venho sempre ler os vossos cantinhos, tal como gosto de saber se os meus amigos estão bem e de saber tudo o que me queiram contar. 

Ps: Tenho sentido falta dos textos abstractos que escrevia, o que me leva a crer que sinto falta de uma parte de mim mesma.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Love sucks



O amor não é cego. Isso é mentira. O amor escolhe colocar-nos uma venda nos olhos e tudo é bonito no que vemos porque só vemos o que o nosso coração quer ver, só vemos as projecções na tal venda do que julgarmos ter à nossa frente em pessoa. O amor é uma porcaria, mas só quando dá para o torto. É hipócrita da nossa parte culparmos o amor e crucificarmos esse sentimento tão intenso. O amor é uma porcaria porque o fazemos uma porcaria, porque o vemos como uma porcaria.
Quando estamos felizes e contentes ninguém se atreve ou lembra sequer em proferir tal coisa, é tudo tão "perfeito" e completo que a vida ganha outras cores, outros cheiros e basicamente ficas repleto de serotonina, dopamina e oxitocina (o que é totalmente verdade) mas o que sentes é o coração a palpitar vividamente, uma ansiedade descomunal, uma explosão de electricidade, carinho, paixão e realização dentro de ti, a desesperar por irromper pela tua pele e incendiar a tua vida de fogo ardente e belo, porque aquele sorriso, aquele olhar e aqueles braços são tudo o que o teu mundo precisa para ter um dia melhor.
Até que num momento tudo colapsa e já não parece nada do que idealizavas mas isso é como quem não tem jeito para o desenho, como eu. Tenho na minha mente uma imagem clara e brutal do que quero mas quando meto mãos à obra, lápis à arte, é como se saísse tudo ao lado, uns meros gatafunhos, um projecto falido do que tinha imaginado porque é impossível transpôr para a vida real seja um desenho, palavras, acções, tudo exactamente igual ao que permanece no nosso íntimo. É isso que acontece com o amor. Nós criamos esta bolha perfeita e depois o que acontece? A realidade acontece. Mas isso é porque tentamos com que esse nosso conto de fadas perfeito passe para a realidade, deixe de ser apenas uma história a pairar nas nuvens do romance ideal. Queremos que seja real. E é aí que a coisa complica. Porque a realidade também consegue ser uma porcaria.
Alguém te pergunta como é que depois de coisas tão horríveis ainda te importas, ainda te dás ao trabalho e fazes as coisas que fazes. A minha resposta é: como é que não o farias?
Amar é estar lá, independentemente de tudo. Amar é assumir uma posição de porto de abrigo, fonte de amor, carinho, compreensão e protecção, como também bola de stress e saco de boxe (não no sentido literal). Amar não é só nos bons momentos. Quem ama aguenta toda a porcaria porque ser amado é sabermos que temos alguém que não nos vai deixar ficar mal e ruir perante os nossos erros, que nos vai segurar ou ajudar a levantar quando tropeçarmos nas pedras da vida ou nos penhascos do nosso ser. Amar e ser amado é assumir um contrato de presença e cuidado.
Claro que há limites, às vezes a mágoa torna-se demasiada e se calhar podes ter um coração maior do que devias. Mas nós só recebemos dos outros o que irradiamos de nós mesmos. Se calhar não recebes em igual medida mas não vais arriscar dar menos só porque recebes menos pois se dás mais, sabes pelo menos que tens a porta aberta para receber mais. Se isso não acontece... Melhores dias virão. Frank Crane disse "You may be deceived if you trust too much, but you will live in torment unless you trust enough." Pois a minha escolha é ser e viver assim, como sou.

Dito isto, o amor continua uma porcaria porque as pessoas conseguem ser uma porcaria. Mas o sol há-de voltar a brilhar no coração de todos nós...

domingo, 22 de junho de 2014

Não vos censuro se não chegarem nem a metade


A minha paixão é nadar. É tão certo como o dia ter 24 horas, a vida ser efémera e o dia de amanhã uma incógnita. Nunca o escondi mas não acho que alguém o perceba verdadeiramente...
Aos seis anos entrei para este mundo e sensivelmente aos oito/nove fui convidada para entrar numa equipa de competição que estavam a criar. Foi das melhores decisões da minha vida, senão a melhor. Na equipa inicial, eu era a mais nova, mais baixa e mais caladinha pois toda a restante equipa era entre 2 a 4 anos mais velha que eu e era como se eu fosse a irmãzinha mais nova. Se no início me senti mais acanhada e com receio, não me recordo porque já se faz sentir como se tivesse sido noutra vida, mas se tal aconteceu depressa passou porque nunca mas nunca me senti mal naquele ambiente. Éramos todos miúdos, eles pré-adolescentes, eu uma criança mas no meio de todas as brincadeiras, picardias ou o que fosse, nunca me fizeram sentir menos que ninguém. Não sei se era por essa tal discrepância de idades que tinham mais "cuidado" mas o que é certo é que foram os melhores tempos da minha vida.
Treinávamos de segunda a sábado, passávamos fins de semana inteiros em provas, éramos unidos e apesar do esforço, compensava. Eu falo por mim, eu cresci com eles, cresci com o meu treinador, cresci com a natação, cresci com a competição e tudo o que isso influenciava. Eu sou brucista, um underdog dos estilos de natação e eu era boa. Na equipa, só havia uma outra rapariga que também se destacava a bruços e sempre que chegava essa parte do treino, sabia sempre bem ser literalmente puxada para a frente porque já sabiam que eu ir atrás deles não me ia "desafiar" nem eles seriam capazes de acompanhar. E o que me fez vencer neste meio foi a minha paixão por aquilo, o desafiar-me constantemente para quebrar barreiras e ser melhor, o não desistir e lutar porque não há outra forma de nos superarmos nesta vida.
E se calhar foi o facto de esse meu desenvolvimento se ter dado no seio de um grupo mais velho, com outra carga emocional acompanhante de desportos em equipa (porque sim, natação parece individual mas é também um desporto de equipa) que por exemplo uma turma escolar não nos traz, que me levou à pessoa que sou hoje em dia e à personalidade que me caracteriza, porque eu ali ganhei valores que não se interiorizam em qualquer lado e o ambiente que me rodeava levou-me a exigir mais de mim, a puxar pelas minhas capacidades, física e psicologicamente, e com isso elevou-me também a outro patamar mental. Até ao ponto em que, uns anos depois, começaram a aceitar gente da minha idade na pré-competição e eu já treinava com ambos os grupos, também devido a horários. E aí já não era o mesmo. Alguns da equipa inicial começaram a sair, estavam a crescer e seguir os seus caminhos, outros acabados de entrar não duravam mais de uma época... Tem que se gostar, ninguém aguenta aquela carga durante muito tempo fazendo frete e é assim que se percebe quem nasceu para aquilo e quem tem aspirações diferentes.
Eu fui a torneios amigáveis, campeonatos regionais, zonais e nacionais. Tenho memórias divertidas, orgulhosas e gratificantes, memórias que me enchem o coração. Até à época em que comecei a ter dores nos joelhos. Esta é uma parte determinante, os treinos puxam por nós, dores todos temos, é suposto doer e cabe-nos a nós escolher o que fazer em relação a isso. Uns desistiam, fartos daquilo. Outros faziam ronha durante os treinos. Eu só me queixava esporadicamente, eu julgava ser do cansaço porque é cansativo, era daqueles queixumes que se deitavam para o ar nos 15 segundos em que estávamos parados entre séries na resistência, mas não passavam de meras palavras, só resmunguices que entravam a cem e saíam a duzentos. Eu não parava.
Resumindo a parte mais chata, entretanto fui à pediatra e fui diagnosticada erradamente. Andei um ano a tratar algo que na verdade não era um problema e a piorar o que na realidade era mesmo um problema. Quando fui a um ortopedista, soube o que realmente tenho, duas condições nos joelhos que supostamente passam com o tempo. Claro que aí pelo meio foi o meu declínio e a minha última prova foram uns nacionais de inverno. Não foi uma decisão fácil, nunca cheguei a perceber se foi a acertada mas, apesar de ter parado de marcar presença nas competições, ainda estive uma época inteira a treinar só em braços porque não conseguia de forma alguma deixar tudo e sair. A natação era a minha vida e esse foi como que um ano de adaptação à perda da mesma.
Sofri muito com isso, chorei bastante e ainda hoje tenho um vazio à espera de ser preenchido. Mas já lido melhor com tudo isso, apesar de me revoltar com algumas situações em que não sabem aproveitar o que têm ou ter "inveja" dos que levam a vida que eu tive de deixar. Não foi uma decisão realmente minha, eu fui de certa forma coagida a sair e sou a única que vai regularmente às piscinas matar saudades e pôr a conversa em dia com o treinador que é como um segundo pai para mim. Até porque o ambiente lá agora é completamente diferente e eu não me sinto mal, de todo, de já não estar lá. Se assim o foi, é porque tinha outras coisas às quais me dedicar e isso leva-me ao ponto principal desta conversa toda...
Hoje um amigo meu de infância faz anos. Amigo esse que entrou para a natação nesses tempos que falei de pré-competição, amigo esse que tinha orgulho em mim e nas minhas conquistas, amigo esse que evoluiu cada vez mais e mais, mudou de equipa consequentemente mudando de escola e de vida, agora numa subida de carreira tão grande que eu espero só ir cada vez mais e mais para cima. Eu tenho um enorme orgulho nele, do fundo do coração e espero por tudo que ele seja bem sucedido. Ele é campeão regional, zonal, nacional, tem ido a estágios da selecção nacional, campeonatos europeus e não pára. Como se a cada fim de semana agora estivesse num país e prova diferente e eu acho óptimo, excelente porque qualidade não lhe falta, capacidades também não e é para mim um privilégio poder dizer que fiz parte do seu começo e desenvolvimento como pessoa e nadador que é. Também já pensei na hipótese de me sentir tão ligada às conquistas dele porque deposito nele também os meus sonhos e a minha paixão, por assim dizer. Ele que viva o que eu fui impossibilitada de viver. Isto parece demasiado dramático mas acaba por ser verdade, no entanto os sacrifícios que ele tem de fazer a nível de vida tanto social como intelectual não se comparam aos que em tempos tive que fazer e apesar de todos os percalços da vida, eu não trocava a vida social que tenho e principalmente a vida intelectual que tanto gosto de estimular. Acho que tudo aconteceu porque devia ter acontecido e eu não guardo rancor aos meus azares da vida porque ainda acredito e espero que algo de bom venha e me encha o coração de novo.
Dito isto, é com muito anseio e agrado que vos digo que ainda vou comemorar com vocês grandes conquistas e vitórias deste "meu" campeão, nem que seja uma presença nos Jogos Olímpicos de 2016, quem sabe... É mesmo um orgulho! Por enquanto, é hoje bem -vindo ao mundo dos 18 ;)

Ps: Este é um tema com imenso pano para mangas, eu ficava aqui dias a falar sobre isto porque foram os tempos mais felizes da minha vida. E por isso, costumo sempre brincar com uma afirmação que no fundo acaba por ser um bocado verdade. A natação é mesmo uma paixão inegável, mesmo hoje em dia faz-me tão bem matar saudades, e se algum dia eu gostar de alguém com tanto carinho, entrega, paixão e intensidade como nutro pela natação, é para casar!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Artes


O mundo das artes é algo que me fascina. A minha mãe tem um jeito incrível para pintar e tudo relacionado com a veia artística, eu em pequena cheguei a fazer umas pinturas mas nunca me alonguei por estes caminhos. Eu sei e sinto no meu coração que pertenço ao mundo do desporto, venham as lesões que vierem, mas isso não impede de explorar outras áreas e eu gosto, gosto muito sinceramente de o fazer.
Quantas e quantas vezes não fiz uns rabiscos nos cadernos e quis desenhar algo que nunca cheguei a conseguir transpõr tal como imaginava para o papel? Quantas e quantas vezes eu não vi o So You Think You Can Dance ou os Step Up's e desejei saber verdadeiramente dançar e conseguir passar toda aquela emoção às outras pessoas? Ou quantas vezes suei eu no Just Dance só porque sim e porque gosto? Quantas vezes cantei eu no duche até achar uma forma de acertar nas notas num registo que me permitisse não desafinar? Ou então quantas vezes abri o meu Magic Piano no iPad e me imaginei a tocar a sério? Nem vocês imaginam, nem eu vos sei precisar. Ultimamente tenho andado a pensar em arranjar um piano, talvez não para já mas um dia, sem aspirar a nada profissional mas apenas uns momentos de descontração. Adorava saber tocar piano, por prazer e nada mais.
Eu gosto de artes. Tenho muita pena de não ter algo em que seja mesmo boa, em que me destaque porque as artes é um mundo que nos eleva como pessoas e como seres, requer uma criatividade, uma expressividade, uma emoção que eu adoro quando cativa e é interessante ou inspirador. Acho que o mais perto que me encontro disso é com a escrita, que é igualmente uma arte, o dom da palavra. Mas com isto não quero dizer que me arrependo do "mundo que escolhi", eu fiz as minhas escolhas e se voltasse atrás seguiria o mesmo rumo, sem hesitar. Isto é só algo que por vezes me deixa a pensar profundamente.
E é importante referir que eu não falei em todas as abordagens das artes, é um mundo tão vasto que não se cinge apenas ao que mencionei como é óbvio. Havia tanto por onde pegar que eu ficava aqui um dia inteiro.

PS: Sabem que eu até me questionei o porquê de não seguir um curso ligado à realização? Eu gosto de filmes, gosto de séries, gosto de filmes e séries inteligentes, etc. E já por duas vezes fiz vídeos "montagem" de coisas que gravei numas férias e na viagem de finalistas (não é para me gabar mas aquilo até fica bom e dá-me gozo fazer, apesar do trabalho). Isso leva-nos à questão problemática de escolher um curso por eu ter interesses tão variados... Mas isso será tema para outro dia :)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

# Say Something


" Há muito tempo que não escrevo. (...) Há muito tempo que não existo. Estou sossegadíssimo. Ninguém me distingue de quem sou. Senti-me agora respirar como se houvesse praticado uma coisa nova ou atrasada. Começo a ter consciência de ter consciência. Talvez amanhã desperte para mim mesmo, e reate o curso da minha existência própria. Não sei se, com isso, serei mais feliz ou menos. Não sei nada. (...) Há muito tempo que não sou eu. "
in Livro do Desassossego

Não me sinto nada presente aqui e sinto falta disso, é algo que me faz bem mas a minha ausência não foi totalmente em vão. Tive notas de bradar aos céus, fiz à menos de uma semana os meus dezoito anos e já estou nas aulas de código. Quanto à minha produtividade, sinto-me confiante e apesar de haver outros projectos que eu gostaria de abraçar, acho que posso ir conciliando as coisas devagar e tudo vai ao sítio mas não me sinto de todo incompleta. A única coisa que me atormenta é não estar segura do que seguir na faculdade.
Olhando para trás e pensando em tudo o que mudou, a minha vida deu não uma mas mil e quinhentas voltas de 180º só no último ano. Nem sei expressar tudo o que me vai na alma, o espírito que perdi algures pelo caminho e que tento reencontrar. No entanto, espero que o vosso ano 2013 tenha sido do melhor e que a vossa passagem de ano vos traga excelentes momentos, muitas coisas boas para todos vocês!
Eu voltarei, muitos beijinhos * 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

# Underneath The Skin There's a Human


Era uma noite como outra qualquer e deambulava pelas ruas cobertas de gente. O fim do Verão não dava de si, o calor abrasador que se fazia sentir era cheio e envolvente. Ao longe, avistou o mesmo rapaz que a abordara horas antes mas desta vez acompanhado por um homem possivelmente de meia idade. O rapaz acenou-lhe e com um passo descontraído, ela aproximou-se. Agora de perto reparara no senhor sentado, de cabelos meio grisalhos e trajes simples. Não era um senhor pomposo, era um senhor da serra. Os seus olhos postos nela intrigavam-na e traziam-lhe afabilidade, era um olhar honesto e cortês. Falara por minutos com o rapaz e encontrava-se na despedida, pois nem sabia se o voltaria a ver. Então de repente os lábios do senhor movem-se e as suas palavras são inesperadas. És linda, parabéns. Sentiu-se completamente apanhada desprevenida, desnorteada. Tudo de bom para ti na tua vida, que sejas feliz e alcances os teus sonhos. Tudo de bom. As dóceis palavras proferidas aterram no seu ser com tamanha incredulidade. Ela agradece continuamente, com um sorriso tímido. De regresso a casa, aquelas palavras ecoam na sua mente. És linda, parabéns. Como é que é possível? És linda, parabéns. Sente-se enternecer e certamente explicação não a consegue encontrar. És linda, parabéns. Não era a primeira vez que ouvia comentários deste género mas desta vez tinha sido diferente. Um estranho, sem qualquer intenção de ter algo em troca ou de a arrebatar. Apenas um comentário genuíno, sem gozo ou maldade, na sua clareza e simplicidade. E pela primeira vez em muito tempo, ela não desprezara tal comentário como um elogio sem fundamento. Chegou a casa, colocou-se em frente ao espelho e por momentos baixou alguma qualquer barreira que a toldava. Por ínfimos segundos, inspirou as palavras do senhor e sentiu lágrimas deslizarem suavemente pela sua face deixando-a a brilhar como uma superfície bela e polida. Por uma pequenina fracção de segundos, ela via, ela realmente via o que o senhor dizia, ela observava algo mais que prendia o seu olhar ao espelho, que a impelia a olhar mais e mais de perto tentando perceber o que mudara. Por momentos e momentos apenas, ela viu o que outros clamavam ver, ela sentiu um gostinho de verdade em todas as palavras que rebaixara. E num abrir e fechar de olhos, tudo voltara ao habitual. O espelho já a repelia e tudo o que observava seria ordinário e comum. Ainda não é hora mas um progresso foi feito e no coração aloja-se a esperança. Talvez, e só talvez, haja mesmo algo mais a sentir e a perceber.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Pessoas


Gosto de conhecer pessoas com quem possa ter conversas com conteúdo. Na outra noite estive à conversa com um rapaz que conheci duas noites atrás e eu só o conhecia de vista porque ele andou na minha escola quando eu ainda tinha os meus 12 ou 13 anos. Começámos por trocar algumas palavras de algo banal e de alguma forma, acabámos por discutir temas desde a faculdade, cursos que por alguma razão se adequariam a mim, o percurso dele na escola e faculdade, desporto, formas de encarar a vida e muito mais. Quando demos por nós, já estávamos ali à umas duas horas com a conversa a fluir naturalmente. Por alguma razão, tanto eu confiei nele como ele em mim e abordámos questões que normalmente não se abordam com estranhos/recém-conhecidos porque quando eu digo que o conheci duas noites atrás, não foi nada com aqueles momentos constrangedores de "olha X esta é a Y e Y este é o X" e trocam-se beijinhos e entra-se naquela conversa standard ou no silêncio embaraçante. Simplesmente trocámos umas frases ali, uns vocábulos acolá e pronto. Ao fim daquelas horas, ele descreveu-me a mim e à minha maneira de ser de uma forma tão certa que eu senti como se ele me conhecesse à anos e o mesmo eu consegui retirar dele. Foi realmente agradável e é destas pessoas que gosto de ter na minha vida, gosto de ter conversas com nexo e nem dar pelo tempo passar. Ele é 5 anos mais velho o que pode influenciar a "qualidade" ou mentalidade da conversa mas também se trata do facto de que temos visões do mundo semelhantes. No fim ele estava a comentar com uma amiga em comum e eu acabei por entrar na conversa, que se fosse uns anos mais novo andava atrás de mim e que se conseguisse alguma coisa comigo nunca mais me largava. É um enorme elogio. E havemos de voltar à conversa nestas noites. Beijinhos, que vou trabalhar *

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Túneis


Desde criança que não sei se inventei mas adoptei uma espécie de pequena brincadeira com túneis. Sempre que viajava de carro, fossem viagens grandes ou idas a Lisboa, e avistava um túnel, sustinha a respiração de uma ponta à outra e depois pedia um desejo. E era tão realista comigo mesma que a dimensão do meu desejo estava dependente do tamanho do túnel porque há grandes e há pequenos que não custam nada. Eram como que momentos de pequenos "sacrifícios" que por alguma razão na minha cabeça me incutiam direito a pedir algo. Claro que nunca levei isso muito muito a sério, não sou parvinha nenhuma mas era algo em que acreditava, tal como as pessoas têm pequenas superstições ou rituais em situações do dia a dia. Era a minha magia, inocência de criança que com o tempo fui perdendo. Com o passar dos anos, começou a ser mais no ímpeto de trabalhar essa minha capacidade de apneia que desenvolvia nos meus treinos de natação e hoje em dia posso fazê-lo mas não com a mesma convicção de anteriormente. Afinal a vida revelou-se e já não vejo tudo belo e amarelo. No entanto, há sempre aquela esperança de que resulte e é um querer acreditar cego.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

# It's Dark Inside



Fechei os meus olhos e aí me encontrei. Sentada junto a ti, dando vida às palavras que escrevo e sentindo o palpitar do teu coração entre cada frase. Os teus olhos fixavam o movimento dos meus lábios enquanto te lia o que não conseguiria dizer de outra forma e isso não me incomoda de todo. O tempo do mundo parou para me ouvir e as palavras que proferi são o centro da gravidade do teu quarto nesse momento. Pergunto-me se tens a noção das coisas que digo, do sentido de todo este emaranhado de vocábulos perdidos e envolvidos em sentimentos, de todo o valor por detrás da estranheza presente em mim. É mais que tudo isso que vês, mas poderás não o perceber. Fiz silêncio, olhei-te nos olhos e não te pronunciaste. A minha respiração ansiosa proporcionava uma falta de ar intermitente e nem o calor do teu toque, das tuas mãos, me acalmava. Tudo havia sido dito e eu não conseguia prescindir da tua companhia, de deitar a cabeça no teu peito e permanecer em silêncio mas levantei-me e parei junto à janela, aguardando algo. Fechei os olhos e voltei a mim, aqui, neste ermo da minha mente.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tu Me Manques


Se calhar já se depararam com esta expressão e sabem o significado ou até já falaram sobre isso, mas eu queria partilhá-la de qualquer maneira.
'Tu me manques' é uma expressão francesa que traduzida para inglês será algo como 'you are missing from me' e em português, não é o normal 'sinto a tua falta' ou 'tenho saudades' mas é sim, algo como 'tu faltas em mim'. Eu acho isto muito bonito e acho que dá uma profundidade diferente às palavras. Não é dizer que temos saudades de alguém mas sim que essa pessoa faz parte da nossa essência e que a temos em falta. Faz sentido? O que acham? Tu me manques. Dá outro nível à questão.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

# Not enough


Estes pensamentos corroem-me como chuvas ácidas ao perfurarem e moldarem belas estátuas de parques. Cada pedaço do meu corpo é uma insegurança por si só. Como se eu olhasse o mundo de baixo para cima, onde me encontro submersa e vejo todos os outros à superfície, assistindo à minha aflição por conseguir erguer-me e respirar. Como se nada do que eu fizesse fosse suficiente para me elevar, para me tirar destas profundezas. E é isso que reside, o sentimento de que não sou suficiente.
E queima. Esta sensação de depreciação. Como se um enorme peso invisível descansasse sobre o meu peito e o esmagasse lentamente, em que eu me encontrasse no limiar de perder os sentidos. Mas ninguém percebe. Nem eu consigo compreender mas eu sinto-o e isso basta-me para acreditar na veracidade da situação. Ninguém vê o que eu vejo e isso deixa-me confusa porque todos me descrevem como algo ao qual eu não creio corresponder. E se o que sinto parece tão real, como poderei sequer abrir a hipótese de acreditar em algo contrário?
Sinto-me mal. Irrelevante e reduzida. E quando dou por mim, as lágrimas rolam pela minha face descontroladamente. Não tenho noção de à quanto tempo isso está a acontecer nem me lembro de o ter permitido mas elas não querem saber, expressando-se quando eu mesma não consigo.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

# Night


De um sono profundo, abro repentinamente os olhos e sinto os meus dedos a entrelaçarem-se nos lençóis de forma violenta. Ergo o meu corpo, impossibilitada de respirar, e olho fixamente a escuridão. Procuro absorver uma lufada de ar que me sossegue mas apenas agravo a aflição que me tolda os sentidos, acelerando fugazmente o bater do meu coração. Coloco a mão sobre o meu peito e pressiono, enquanto que as lágrimas que me percorriam a face se transformavam agora num choro compulsivo. Começo a sentir um peso nas têmporas e temo que vá desfalecer. Tento permanecer focada e calma e com a outra mão,  pressiono ainda mais o peito até começar a sentir-me mais descontraída e a ganhar o controlo. Tudo o que sinto é o ar a instalar-se em mim e lentamente vou acalmando, os músculos relaxam e a respiração toma um ritmo seguro e regular. Solto as mãos ainda a tremer, limpo o rosto e permaneço sentada na cama. Espero uns minutos até garantir que voltei efectivamente ao normal e só depois me volto a deitar e aconchegar nos lençóis. Fecho os olhos e visualizo o movimento do ar nas minhas vias respiratórias, uma última vez antes de adormecer. Descanso e preparo-me para a próxima noite.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

# Comptine D'un Autre Été


Páro por um momento e pouso o livro que tenho em mãos. Sinto olhares a perscrutarem-me as expressões tentando decifrar em que estou a pensar. A minha mente anteriormente dispersa está agora bem focada e desenredei toda esta farsa em que tenho vivido. Como pude ser tão ingénua? Como me pude conformar com tal decisão? Tudo na minha cabeça se torna claro, claro como a água. Levanto-me e sinto a premência de desaparecer daqui. Não sei o que pensar, não sei o que sentir. Apresso-me a sair da sala e dirigir-me ao meu quarto onde faço as malas. Faço as malas como nunca as fiz, metodicamente e com frivor, não esquecendo um único elemento. A confusão tolda-me o rosto, mas também a desilusão e a revolta o fazem. É tanto para assimilar e sinto-me traída. Vazia e perplexa. Caminho até à porta e vejo mãos a erguerem-se em torno de mim para me anteciparem os movimentos. Os seus pulsos fortes e determinados prendem-me os meus, tentando demover-me da minha decisão. Deixem-me, deixem-me ir. Eu preciso de ir. Desfaço-me em lágrimas mas são lágrimas repletas de ira. Com movimentos rápidos e desmedidos, afasto violentamente qualquer um que me tente agarrar. Larguem-me, larguem-me já. Vocifero, enquanto me componho e apanho alguns objectos que me caíram das mãos. Os nervos e o desespero atacam-me e encosto-me à parede, deslizando abaixo até ficar sentada no chão onde tento reprimir as lágrimas e o sofrimento que parece consumir-me. As suas palavras tentando me acalmar são como lenha que atiram para atear ainda mais o fogo, levanto-me e já não meço o que digo nem o meu tom de voz profundamente magoado. Era o meu sonho, não tinham o direito de mo tirar. Meu e só meu. A minha paixão, o meu alento, a minha força de viver todos os dias. E eu acreditei, acreditei quando me disseram que era o melhor a fazer, abandoná-lo. Foi como desistir de uma parte de mim mas agora percebi, percebi a mentira que me fizeram viver. É o meu sonho e eu tenho de lutar por ele. Viro costas e não olho para trás. Só preciso de um lugar para me resguardar e pensar com clareza. Desato a correr prado fora, seguindo a brisa e focando o horizonte em direcção ao lago e aos belos exemplares de árvores que o circundam. Corro. Corro pelas coisas que me fazem querer ir mais além, corro pelo que me dá razões para viver, por tudo o que aspiro a conquistar e por tudo o que não me podem tirar. Corro por mim e pela minha vida.


Ps: este texto foi inspirado na música Comptine D'un Autre Été de Yann Tiersen, sugerida pela Cassandra :)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

# Breathe


Respira. Esta voz na minha cabeça impede-me de desfalecer. Estas paredes de arbustos que se elevam junto a mim, esta luz que me atrai... É-me difícil focar tudo isto. Sinto-me pequena, ingénua, atenta a quem me chama. Estico o meu braço e toco as folhas, sentindo o poder da juventude inundando-me a alma. Não sei onde vou mas já sei onde estive e a curiosidade leva-me em frente. Respira. Cada lufada de ar é um pouco de conhecimento que se entranha em mim. Cada passo que dou é um pouco de experiência que absorvo. Este labirinto parece não ter fim. Respira. À medida que avanço, mais são os caminhos que posso tomar e maior é a pressão. Qual o certo? Qual o meu? Estas dúvidas que me assolam tentam-me a olhar para trás. Não há como regressar, apenas continuar e perder-me no cerne desta minha jornada. Caminho enquanto a angústia me preenche e o medo ressoa ao ritmo do meu coração. Que estou eu a fazer? Respira. Treme, esta terra que me sustenta está a tremer. Vejo o solo elevar-se à minha frente e só me resta começar a subir. O cansaço devasta-me e sinto o peso do tempo. Que é feito desse velho amigo? Lágrimas escorrem-me pela face, no preciso momento em que chego ao topo e testemunho o que me espera a seguir. Respira. Desta vez também eu preciso de repetir, respira. À minha frente... vejo o fim. O que eu tão cegamente esperava alcançar, o culminar de todas as escolhas que fui obrigada a fazer... Vem tempo, deixa-me voltar atrás, dá-me uma oportunidade de observar cada flor daqueles arbustos, cada pedra por que passei, cada raio de sol que me iluminou e cada gota de água que me acalmou. Deixa-me recomeçar, eu deixei tanto por fazer, tanto por descobrir, tanto por amar. Tanto por fazer, suspiro... Não. Não, não e não. Por favor. Respira. E espera acordar deste sonho que te aterroriza todas as noites.


Ps: Este texto foi inspirado na música Breathe dos The White Birch, sugerido pela Hayley.

domingo, 27 de janeiro de 2013

# I run and run as the rain come


Desespero. Sem mais forças, deixo-me cair onde o meu corpo me levou. O frio faz-se sentir, transpondo a barreira que as roupas deviam representar. A chuva incessante mistura-se com as lágrimas que me toldam o rosto, agora sem possível distinção, e lava-me também o espírito tentando acalmar-me, ao carregar consigo o máximo de tormentos possível para longe. O vento remexe os meus cabelos violentamente e movimenta-se como se tivesse uma missão a cumprir, com tamanha urgência e longe da compreensão, levando consigo todas as palavras que pudessem ser proferidas. Isto se algo eu dissesse. Rendida ao choro e a esta dor que me corrói por dentro, este vazio que se estende no meu interior, nada posso fazer do que envolver-me nos meus próprios braços e tentar controlar a respiração ofegante. Quero levantar-me, correr e deixar-me embrenhar pela escuridão, ser tomada por inteiro e não voltar atrás. Estes demónios assolam-me a mente e brincam com a minha sanidade. Nem forças para gritar tenho, enquanto estes sentimentos me consomem. Nada faço pois nada sei. Apenas fico ali mal amparada, observando a fúria da natureza e deixando-a invadir todo o meu alento, alimentando fugazmente este desejo de esquecer tudo e apenas recomeçar, ultrapassar toda esta mágoa intemporal, esta mortal necessidade de me aperfeiçoar. Preciso de tempo, mas esse não pára por mim. Esgotada e angustiada, tudo o que me resta é cobrar uns momentos só para mim, mesmo que nada me resolva, mesmo que nada mude e mesmo que nada volte aos trilhos. Só preciso de sossego, ouvir o vento sussurrar-me ao ouvido e respeitar a imponente água que vem do céu fazer-me companhia, sentir a força da terra e respirar o ar fresco e revitalizante, acreditar na natureza e interiorizar que a minha presença importa, seja no alto da colina ou no fundo dos oceanos, aqui ou ali, eu hei-de pertencer nalgum lado. Quando isso acontecer, vou poder levantar-me e fazer da minha vida a melhor que conseguir. Até lá... Ficarei aqui, implorando um pouco de tempo e, sem saber onde ir ou que fazer, recuperando forças nos confins da existência, espero realmente conseguir renascer e recuperar a paixão pela vida.