terça-feira, 12 de agosto de 2014

# The Look in Someone's Eyes


Era uma tarde soalheira e quase que podia ser embalada pelas ondulações da água enquanto consentia ao meu corpo que flutuasse e se deixasse levar pelo ritmo da vida. Por razões ainda desconhecidas, os nossos caminhos cruzaram-se, literalmente, e foi adicionada à minha visão do mundo uma nova camada completamente fora do modelo convencional. Uma única palavra proferida foi o suficiente para me acordar e despertar a atenção.
É curioso pensar: e se demorasse cinco segundos extra a mexer-me e chegar ao ponto de "colisão"? Já não passaria apenas de uma realidade não consumada, uma possibilidade perdida no meio de tantas outras que se perdem todos os dias da nossa vida. É interessante pensar que com cada escolha que fazemos, com cada caminho que tomamos, existem outros tantos que se dão por interditos e acabados. Isso é uma das muitas provas de que o nosso destino é talhado por nós dia após dia, somos nós que construímos a calçada da rua da nossa vida, somos nós que plantamos as árvores da nossa alameda, somos nós que tecemos a passadeira vermelha do nosso futuro, somos nós que, um dia de cada vez, colocamos tijolo sobre tijolo e construímos o nosso castelo. E o mapa de infinitas possibilidades e combinações é tão bem construído que mesmo que tomemos o caminho errado hoje, poderemos ter a oportunidade amanhã para retomarmos o certo, aquele que nos é fiel a nós mesmos. Ou não. Claro que algures por aí, existem alguns meros acasos no que toca ao nosso mapa cruzar-se com o mapa de outras pessoas. Eu decidi que ia deslocar-me por ali e nada ia mudar isso, no entanto foi o tempo que demorei a fazê-lo que determinou que colidisse com o seu trajecto, o seu dia, a sua vida, na verdade. E isso acontece com todos nós, a toda a hora. Sem explicação.
Dizem que os olhos são a janela da alma. Pois então, eu diria que o seu olhar me compelia a fazer-me transportar para o seu ser, observar o conjunto de peculiaridades e mistérios que o compunham e irrompiam do seu interior para o seu redor. Uma figura tão estranha e diferente... Mas ao mesmo tempo, cativante.
Sinto-me movida pela possibilidade de viajar, conhecer, descobrir, explorar. Senti-me movida pelo estilo de vida alternativo (desligado de estereótipos, nada a ver), tinha algo de refrescante e novo, aliciante, libertador. Todo o seu ar vivido me fazia gritar silenciosamente por novas experiências, novas realidades, novas metas. Tinha qualquer coisa de invulgar aquela presença e era daquelas que te impedem de desviar o olhar, os seus olhos quase que exigiam o estudo dos meus. Perco a sensibilidade e esqueço-me de onde estou, tudo à minha volta esmorece e ao mesmo tempo vislumbro uma infinidade de experiências que estou a deixar escapar, vejo nele tudo o que estou a perder com a minha vida sossegada e quieta, segura. Faz-me querer mais para mim, uma vivência fora do comum, algo que destaque a minha vida do padrão, algo que a torne não uma vida qualquer mas a minha vida, que me entusiasme tanto que me faça explodir de emoção e satisfação...
Aquele olhar inspirou-me, mudou-me a mim e à forma como estava a projectar o meu modo de viver, e isso é impagável.

1 comentário:

Mel disse...

Bem, adorei o que escreveste! Somos mesmo nós que escolhemos o nosso caminho e, a melhor particularidade é poder andar para trás se estivermos a seguir um caminho cheio de buracos e percalços. Mas mesmo andando para trás, aquele caminho fica registado no nosso mapa. E é sempre mais um ensinamento.
resp: o chocolate de avelã é o meu preferido. Não me afoguei nesse porque não tinha. Obrigada pela força de ontem e por gostares do blog, é sempre muito bom ouvir!