quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

# Comptine D'un Autre Été


Páro por um momento e pouso o livro que tenho em mãos. Sinto olhares a perscrutarem-me as expressões tentando decifrar em que estou a pensar. A minha mente anteriormente dispersa está agora bem focada e desenredei toda esta farsa em que tenho vivido. Como pude ser tão ingénua? Como me pude conformar com tal decisão? Tudo na minha cabeça se torna claro, claro como a água. Levanto-me e sinto a premência de desaparecer daqui. Não sei o que pensar, não sei o que sentir. Apresso-me a sair da sala e dirigir-me ao meu quarto onde faço as malas. Faço as malas como nunca as fiz, metodicamente e com frivor, não esquecendo um único elemento. A confusão tolda-me o rosto, mas também a desilusão e a revolta o fazem. É tanto para assimilar e sinto-me traída. Vazia e perplexa. Caminho até à porta e vejo mãos a erguerem-se em torno de mim para me anteciparem os movimentos. Os seus pulsos fortes e determinados prendem-me os meus, tentando demover-me da minha decisão. Deixem-me, deixem-me ir. Eu preciso de ir. Desfaço-me em lágrimas mas são lágrimas repletas de ira. Com movimentos rápidos e desmedidos, afasto violentamente qualquer um que me tente agarrar. Larguem-me, larguem-me já. Vocifero, enquanto me componho e apanho alguns objectos que me caíram das mãos. Os nervos e o desespero atacam-me e encosto-me à parede, deslizando abaixo até ficar sentada no chão onde tento reprimir as lágrimas e o sofrimento que parece consumir-me. As suas palavras tentando me acalmar são como lenha que atiram para atear ainda mais o fogo, levanto-me e já não meço o que digo nem o meu tom de voz profundamente magoado. Era o meu sonho, não tinham o direito de mo tirar. Meu e só meu. A minha paixão, o meu alento, a minha força de viver todos os dias. E eu acreditei, acreditei quando me disseram que era o melhor a fazer, abandoná-lo. Foi como desistir de uma parte de mim mas agora percebi, percebi a mentira que me fizeram viver. É o meu sonho e eu tenho de lutar por ele. Viro costas e não olho para trás. Só preciso de um lugar para me resguardar e pensar com clareza. Desato a correr prado fora, seguindo a brisa e focando o horizonte em direcção ao lago e aos belos exemplares de árvores que o circundam. Corro. Corro pelas coisas que me fazem querer ir mais além, corro pelo que me dá razões para viver, por tudo o que aspiro a conquistar e por tudo o que não me podem tirar. Corro por mim e pela minha vida.


Ps: este texto foi inspirado na música Comptine D'un Autre Été de Yann Tiersen, sugerida pela Cassandra :)

4 comentários:

łnn Gray disse...

Obrigada Joana :)
A sério? Que texto era? Que awesome!! :D

łnn Gray disse...

Ahah, tal e qual, tenho dois borrachos a dividir o ar comigo neste Cafucho ahahahahah
Beijinho, Stay Awesome*

Sophie disse...

Que lindo, Joana! *-* Ler o teu texto ao som da música é qualquer coisa! :) Gostei da forma como interpretaste aquela música! :D Eu nunca a interpretaria assim! hahaha beijinho and keep writting! ^^

Cassandra Lovelace disse...

Oh ficou realmente bom! Adoreii! Creio que é o teu que ainda não fiz :o está nos rascunhos, pendente :s
Mas vou voltar a ele! Beijos, Cass